Fundo Patrimonial está transformando o ensino da engenharia no Brasil

10 de outubro de 2018 • Publicado em Notícias Institucionais

Fundo Patrimonial está transformando o ensino da engenharia no Brasil

O Amigos da Poli Investe na educação de jovens para impulsionar o crescimento do país

 
O Fundo Patrimonial Amigos da Poli é uma associação que capta recursos para projetos da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli). Fundado em 2009 por um grupo de ex-alunos, foi inspirado nos endowments das grandes universidades americanas, fundos criados a partir de doações em que grande parte dos recursos vêm de estudantes que passaram pela faculdade, empresas ou filantropos interessados em educação. Em nove anos de existência foram mais de 60 projetos apoiados e 3.500 alunos impactados. O diretor presidente do Amigos da Poli, Lucas Sancassani, conta como o Amigos da Poli levantou R$ 20 milhões em doações e quais seus planos para o futuro.

1. Como surgiu a ideia da criação do fundo?

Lucas Sancassani: A ideia da criação do fundo foi inspirada nos endowments das grandes universidades americanas. Nestas universidades, o endowment se mostra como ferramenta importante de financiamento para a faculdade e de aproximação dos ex-alunos com a escola. Como grandes exemplos, podemos citar universidades importantes como Harvard, Stanford, Yale e Columbia. Em universidades como estas, o endowment pode representar 30-40% da receita operacional.

2. Como o fundo atraiu doadores?

Temos em nosso grupo de doadores ex-alunos e outros públicos como pais de alunos, professores e interessados em investir na engenharia de uma forma geral. No início, convencemos pessoas importantes e com reputação ilibada de que este projeto era viável e meio importante para fomentar a engenharia. Ao longo dos anos e com a credibilidade que estes pioneiros trouxeram ao projeto, recebemos cada vez mais a adesão de novos doadores. Hoje nossa base conta com mais de 2,000 doadores.

O principal argumento para atrair doadores é o modelo do endowment: além de ser comprovadamente bem sucedido em várias instituições no mundo, é uma alternativa de financiamento de longo prazo, onde o recurso principal (doações) é conservado e o dinheiro investido (devolvido para a faculdade) procura limitar-se aos rendimentos do fundo de endowment.

3. Qual a importância de investir na engenharia no Brasil?

O investimento na engenharia é um dos maiores vetores de crescimento para um país. Nos anos de bonança, quando o Brasil gozava de melhor situação econômica, precisávamos importar engenheiros de países como Alemanha, Japão e Estados Unidos. A engenharia está intimamente ligada com o desenvolvimento de novas tecnologias e com a resolução de problemas, temas que precisamos sempre avançar, sobretudo no nosso país.

4. Como é a estrutura de governança do fundo e quem investe os recursos do endowment?

Os nossos grandes doadores (doadores associados) compõe a assembleia de associados do Amigos da Poli. Esta assembleia, a cada dois anos, elege o Conselho Deliberativo (instância máxima de administração do fundo), ii) Conselho Fiscal (audita nossos livros, em adição à auditoria independente que contratamos anualmente) e iii) Comitê de Investimentos (dá as diretrizes de investimento dos nossos ativos). Além disso, o Conselho Deliberativo elege uma Diretoria Executiva (da qual sou o diretor-presidente), que efetivamente faz a gestão do Amigos da Poli no dia-a-dia.

Como se vê, é uma governança “parruda” e semelhante a de uma empresa. Além das estruturas acima detalhadas, contamos com o apoio de empresas de grande reputação que prestam serviços jurídico, auditoria, contabilidade e marketing. Temos também uma gerente executiva, que é a nossa única funcionária.

5. O Amigos da Poli já retornou mais de R$ 2 milhões para a faculdade. Que tipos de projetos foram apoiados?

Já apoiamos mais de 60 projetos e estimamos ter impactado mais de 3.500 alunos. A natureza dos projetos varia desde os ligados à pesquisa e desenvolvimento até projetos em educação e ensino da engenharia. Sempre procuramos apoiar projetos ligados aos seguintes vetores: inovação, trabalho em equipe, liderança, cidadania e empreendedorismo/gestão. Eu particularmente sou fã dos seguintes projetos: “Desenvolvimento Integrado de Produtos” e “Próteses e órteses de baixo custo”.

Com recursos do fundo, quatro professores da Poli embarcaram para Stanford, nos Estados Unidos em busca de ideias para montar uma nova disciplina. Na matéria “Desenvolvimento Integrado de Produtos”, alunos colocam a mão na massa para criar protótipos, soluções e inovações para problemas reais da sociedade. A disciplina está estimulando o processo de inovação entre os alunos da Poli, já resultou em publicação de pesquisas acadêmicas, registros de patentes e até no surgimento de startups.

Outra iniciativa que orgulha o Amigos da Poli é a que desenvolve próteses e órteses de baixo custo. Liderado pelo professor Chi Nan Pai, o projeto utiliza uma impressora 3D para imprimir os dispositivos com custo entre R$ 500 e R$ 1000, enquanto no mercado uma prótese pode custar entre R$ 100 e R$ 200 mil. São mais de 20 milhões de deficientes físicos e a tecnologia pode ajudá-los muito.

6. Como acontece o processo de seleção?

Anualmente o Amigos da Poli lança um edital com detalhes e condições de financiamento dos projetos. O edital é aberto para toda a comunidade politécnica (alunos, professores e funcionários). Os projetos submetidos passam por um criterioso processo de seleção: i) filtros iniciais de elegibilidade, ii) banca examinadora com a participação de mais de 50 pessoas, que votam eletronicamente nos melhores projetos e iii) pitch day, quando os projetos com melhor avaliação são convidados para um pitch presencial na nossa reunião de Conselho Deliberativo. Os projetos aprovados no pitch day recebem o nosso patrocínio, que é desembolsado em fases condicionado à entregáveis de projeto e demonstração de gastos.

Enfim, é um processo criterioso que garante a melhor alocação dos nossos recursos.

7. São inúmeras ações no Brasil para estimular a cultura de doação, mas pesquisas sobre a filantropia mostram que muitos apontam que não doam “porque ninguém pediu”. Como você acha que o exemplo do Amigos da Poli está contribuindo para inspirar outras universidades a criarem fundos parecidos?

O Amigos da Poli está rompendo essa barreira e pedindo doações. A cultura de doação no Brasil é algo recente e poucas pessoas se sentem encorajadas. O relativo sucesso da nossa organização tem servido de exemplo para outras escolas criarem seus endowments, – já aconselhamos e ajudamos várias outras escolas, como por exemplo FEA-USP, Unicamp, ITA, PUCRio, entre outras.

8. Pessoas que não estudaram na Poli também podem doar?

Certamente. Eu já encorajei toda a minha família e amigos próximos a doar. Como mencionei anteriormente, investir no Amigos da Poli é mais do que investir na nossa escola. É investir na engenharia e no futuro do Brasil. Temos uma parcela significativa de doadores,inclusive doadores associados, que não estudaram na Poli, mas acreditam no nosso país.

9. Quais são os planos para o fundo nos próximos anos? Como pretendem engajar os ex-alunos da Poli que moram fora do Brasil para contribuir para o fundo?

Nosso plano é expandir. Temos aproximadamente R$ 20 milhões de reais e boa parte deste patrimônio foi construída nos últimos dois anos. Em dezembro de 2015 tínhamos R$ 5,3 milhões. Ou seja, nossa velocidade de crescimento tem aumentado e observamos um enorme potencial à frente. Nós passamos também a explorar outras formas de ajudar a escola, como a criação do Centro de Carreiras que promove treinamento para alunos politécnicos que estão ingressando no mercado de trabalho. Também levantamos recursos para a criação de um laboratório de Big Data, que está sendo construído na Poli neste momento.

Felizmente, a nossa escola conseguiu formar uma grande quantidade de pessoas que moram no exterior, sobretudo nos Estados Unidos. Para tanto, conseguimos uma excelente parceria com a BrazilFoundation que será nossa porta de entrada neste mercado. Já temos mapeado uma gama de pessoas residentes nos EUA e vamos agora focar, em conjunto com a BrazilFoundation, em fazer eventos com este público para captar recursos.

10. Se recursos não fossem problema, o que poderia ser feito?

Muita coisa. Nossa escola tem uma capacidade impressionante de gerar projetos de ponta no campo da engenharia, certamente estaríamos em outro patamar no desenvolvimento científico e tecnológico. Ao longo dos seus 125 anos de existência, a Poli foi capaz de criar muita coisa e de formar notáveis em muitas áreas da ciência e do conhecimento humano. Com maior incentivo financeiro, poderíamos chegar ainda mais longe e alavancar o crescimento do Brasil.

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Quer apoiar O Amigos da Poli? Faça uma doação por meio do Programa de Doação Recomendada da BrazilFoundation em:

https://www.brazilfoundation.org/project/amigos-da-poli/