Filantropia Compartilhada: inaugurando um novo capítulo no setor social brasileiro

22 de dezembro de 2015 • Publicado em EditaisNotícias Institucionais

Filantropia Compartilhada: inaugurando um novo capítulo no setor social brasileiro

Por Patricia Lobaccaro

BrazilFoundation lançou em outubro um projeto pioneiro batizado de “Prêmio de Inovação Comunitária”, que inaugura uma nova etapa na filantropia brasileira com financiamento democrático e horizontal. O prêmio irá contemplar iniciativas informais que carinhosamente chamamos de OP (Outra Parada) com até R$ 5 mil.

BrazilFoundation convidou organizações que fazem parte da sua Rede de Líderes para atuarem como financiadoras de iniciativas dentro das suas áreas de atuação, contribuindo com seu expertise setorial e territorial, além de oferecer mentoria para as iniciativas selecionadas por elas próprias.

As razões para testar esse novo modelo de filantropia compartilhada são muitas: financiar iniciativas que estão fora do radar de outras fundações -e inclusive do nosso – por não serem formalizadas; democratizar a decisão de alocação do recurso, pois o capital filantrópico está concentrado nas mãos de poucas entidades; testar a ideia de que organizações financiadas podem ser financiadoras; estimular protagonismo local e criar um ecossistema que favoreça a criação de novas tecnologias sociais.

Quando lançamos a iniciativa dentro da nossa rede de parceiros, não sabíamos qual seria o nível de adesão. Foi enorme! As organizações madrinhas tiveram leituras diferentes do que esse prêmio pode significar, mas juntas formam um grupo que traz uma sabedoria de valor inestimável e conosco iniciam um novo capítulo na filantropia brasileira: plural, decentralizado e colaborativo.

Algumas madrinhas vêm com foco regional, de financiar o local a partir do local, como o Voz das Comunidades que atua a 10 anos no Complexo do Alemão, ou o Ateliê de Ideias que tem mais de uma década de atuação promovendo desenvolvimento local em Vitória, no Espírito Santo.

Outras vêm com enorme expertise setorial. A Gastromotiva, por exemplo, trabalha há uma década com gastronomia social, e o IFC tem grande experiência em controle social e promoção de transparência. Alguns vislumbram a possibilidade de cultivar uma nova geração de líderes, enquanto outros enxergaram uma oportunidade de mapear iniciativas em seus territórios de atuação e fortalecer redes.

 O Brasil é um país com altos índices de desigualdade e concentração de renda. O setor filantrópico não escapa dessa regra. O país tem poucos financiadores, que em geral possuem recortes tanto regionais quanto programáticos. As fundações e institutos empresariais, além de estarem atreladas atividades vinculadas aos negócios das empresas, tendem a executar seus próprios programas, ao invés de financiar.  De modo que a decisão do investimento do capital filantrópico quase nunca ocorre por atores locais, salvo pouquíssimas exceções.

Recebemos 144 propostas de 16 estados por meio das 38 organizações parceiras. As iniciativas protagonizadas pelos mais diferentes atores: por adolescentes e por idosos de 81 anos e por indígenas de três estados diferentes. Por sertanejas, ribeirinhos, por jovens de periferias e favelas.

A diversidade das propostas é riquíssima e juntas formam um belíssimo retrato do Brasil: de projetos de turismo de base comunitária e recuperação de nascentes; incentivo de protagonismo jovem na política;  formação de cooperativas de produtores jovens rurais; jornais comunitários; caravanas de incentivo à transparência; mutirões para reforma de postos de saúde; inúmeras iniciativas culturais e educativas e de geração de renda.

Algumas ensinam a pescar, como um curso de pintura predial para egressos do sistema penitenciário, enquanto outras ensinam a “vender o peixe”, ensinando mulheres que foram capacitadas em construção civil a venderem seus serviços de reparos domésticos.

Estamos vivendo num mundo  líquido que se transforma em tempo real.  Grande parte das inovações do setor social não se encaixa nos formatos que tradicionalmente tem acesso a financiamento: são movimentos, coletivos, grupos informais. São iniciativas enxutas, ágeis, com alta capacidade de transformar. Essas iniciativas precisam de apoio, e ninguém melhor do que organizações já constituídas com expertise regional e setorial para fortalecê-las.

Temos enorme gratidão às 38 organizações que embarcaram neste projeto piloto pioneiro conosco, certos de que os resultados serão incríveis. As iniciativas premiadas serão divulgadas no site da BrazilFoundation  dia 22 de fevereiro.